Agilidade

Explicando Gerenciamento de Times com Overcooked

Uns anos atrás, eu comprei um Switch e um dos primeiros jogos que peguei foi Overcooked. Como não sou aquele player hardcore, eu gosto mais de juntar um pessoal para jogar algo mais “família” e esse jogo era perfeito. Mas eu sempre fui um pouco competitivo e um pouco observador, então resolvi aliar algumas dinâmicas do jogo com o que eu faço aqui na Jera – sou Agile Master. <3

 

Overcooked

O jogo em si é bem simples, temos os personagens, os pratos que precisam ser preparados e a junção de ingredientes. Nós, como jogadores (1 a 4 players), precisamos preparar e entregar os pratos dentro do tempo estipulado. Quanto mais rápido completamos as tarefas, mais estrelas ganhamos!

 

 

O mais engraçado é que não importa com quais amigos ou familiares começamos a jogar as partidas, sempre passamos por etapas similares de evolução dentro do jogo. Algumas vezes formas diferentes, mas sempre seguindo algumas semelhanças.

Mas não é tão fácil assim chegarmos em um time que conquista 3 estrelas e abre todo cenário do jogo. O processo de evolução precisa acontecer e ele passa pelo modelo de Tuckman, o mesmo modelo que usamos nos times de projeto.

 

Tuckman

 De forma resumida, o modelo foi criado em 1965 por Bruce Wayne Tuckman, neste estudo o desenvolvimento de equipes foi dividido em 4 estágios principais: Forming, Storming, Norming e Performing, ou em português: Formação, Confrontação, Normatização e Performance.

O principal objetivo do estudo foi mostrar como as relações entre as pessoas de uma equipe podem influenciar a maneira que cada pessoa realiza suas atividades.

 

Formação do time dentro do Overcooked e suas fases

 Agora que sabemos sobre o jogo e o modelo de Tuckman, vamos passar pelas experiências que tive nas minhas partidas de Overcooked e entender melhor como o jogo e o modelo de Tuckman se encontram:

 

Principais fases:

 

  1. Forming: Conhecer o jogo e os jogadores

Aqui é onde tudo começa, chamamos as pessoas para jogar, dividimos quem são os 4 players e jogamos as primeiras partidas.

 

E o que acontece geralmente?

–  Aprendemos os comandos básicos para quem nunca jogou;

Começamos a ver na prática o que precisa ser feito, na teoria o jogo parece super simples;

Entendemos as regra daquela fase;

– Não conseguimos nem 1 estrela;

– A gritaria (ou diversão) das partidas ainda não começou…

 

Bom, aqui é um momento muito exploratório, começamos a conversar sobre as estratégias, entendemos como jogar e podemos falar que somos os famosos noobs.

 

Cena normal em times que estão começando (e mais experientes também)

 

  1. Storming: Que as brigas comecem!

A diversão de verdade começa aqui. Se alguém já jogou ou viu amigos/família jogando é aquele momento de loucura: gritos, apontar o dedo no/na coleguinha que não conseguiu fazer o que precisava e as discussões (ou xingamentos) sobre a estratégia ficam mais constantes.

 

E nas partidas, o que está rolando?

– As primeiras estrelas começam a aparecer finalmente!;

– Algumas estratégias funcionam, outras nem tanto;

Apesar de boas ideias, falhamos na execução da maioria delas, afinal, ainda não jogamos muitas partidas juntos;

Discussões e perfis comportamentais ficam bem claros: aqui descobrimos que algumas pessoas são teimosas, outras impositivas e algumas só querem paz mesmo;

– Brigamos, pois sempre achamos que o outro não fez aquilo que deveria ter feito. Na teoria de times, chamamos de conflito entre papéis/cargos/responsabilidade e na prática no jogo, é: “Você que deveria ter lavado esse prato!” ou “Por que você está cortando pão ao invés de fritar a porr@ do hamburguer?!”.

 

 

Se você já jogou, feche seus olhos e lembre das partidas. Aqui com certeza foi o momento em que xingar o coleguinha pareceu a melhor opção.

Obs: O próprio jogo te dá a opção de “xingar” alguém, acredito que para tirar o stress dessa etapa.

 

  1. Norming: A calma depois da tempestade

As brigas continuam, mas o foco muda – as empolgações com o resultado começam a aparecer!

 

Como está o nosso time?

Conhecemos melhor o perfil de cada um e a melhor forma de encaixar nossas estratégias;

– Parece que cada um sabe o que fazer e consegue se adaptar (ou quase) quando algo não sai como planejado… Exemplo: maldita fase do rato que rouba nossa comida ou a fase com o cenário se mexendo;

Começamos a dominar os comandos. E sentimos que estamos nos tornando mais eficientes, mesmo com a mudança de dificuldade das fases. Exemplo: aquela fase do gelo nem parece tão chata mais;

– Podemos dizer que não somos mais um grupo de pessoas jogando e sim que somos time!

 

 

  1. Performing: Silêncio na sala, estamos jogando!

O grande foco aqui são as 3 estrelas! As fases já não assustam, em poucas rodadas já conhecemos uma fase nova, já traçamos uma estratégia e sabemos o que cada um vai fazer. (Aqui os xingamentos são de comemoração!)

 

Como saber se estamos nessa etapa?

3 estrelas são o principal foco em cada fase, e quando conseguimos 2 estrelas passamos até raiva;

– A cara de concentração de quem está jogando é bizarra;

Aquele momento de alinhamento quando não conseguimos passar de fase é rápido e diretivo, praticamente só alinhamos detalhes;

Até parece que nos tornamos auto gerenciáveis. (Por que no jogo é mais fácil que na vida real?).

 

Uma das coisas que guardo dessa etapa é quando jogamos em casa no final do ano e pedi pra minha família falar mais baixo porque estávamos quase conseguindo o tempo perfeito.

 

 

Dicas para seu time (não apenas no Overcooked) evoluir mais rápido:

Precisamos entender as regras do jogo, mas não focar somente nelas. Saber dos comandos e dificuldade das fases não nos tornam bons jogadores, mas sem elas, não conseguimos nem começar a jogar;

Discussões podem ser saudáveis e muitas vezes necessárias! Times que não conversam e não discutem, terão dificuldades ou dependências para evoluir;

A adaptação é necessária! Muitas coisas no jogo (ratos, fases que quebram, lava, gelo, etc) e em times (saída de pessoas, erros ou problemas na nossa solução, queda de energia ou internet, etc) são imprevisíveis, e para chegarmos no nosso objetivo, precisamos nos moldar para cada dificuldade e às vezes até quebrar um processo ou sair do combinado;

Objetivos claros + gestão de expectativa: Não é todo time no jogo que tem o objetivo de conquistar 3 estrelas. Às vezes um time quer passar por todas as fases ou apenas passar o tempo sem se importar com as estrelas. O importante é que isso esteja claro para todos, da mesma forma nos times que trabalhamos. Saber o nosso objetivo, faz com que o nosso trabalho faça mais sentido, em um jeito provocativo de falar: não seja um(a) idiota guiado(a) por metas – sem entender o real propósito daquilo, teorizado pelo Golden Circle do Simon Sinek;

Respeitar o tempo de cada um. Nem sempre a pessoa ao lado aprende e executa na mesma velocidade que todos e não precisamos culpá-las por isso! O questionamento ideal é: Como podemos ajudar essa pessoa a aprender mais rápido? Resposta: Criar uma cultura de colaboração e ambiente seguro;

 

 E entrando um pouco no mundo da agilidade:

Precisamos entender melhor o fluxo do trabalho, não apenas a nossa tarefa, assim enxergamos melhor nossos gargalos;

Respeite o limite de trabalho + pare de começar e comece a terminar! Não conseguimos fazer 2 coisas ao mesmo tempo, da mesma forma que 2 tarefas em andamento geram menos valor que 1 entregue. 1 prato entregue pontua, 3 em andamento não.

PDCA (Planejar, Executar, Checar e Agir): não é só de execução que vivem os times, precisamos buscar sempre a melhoria. E isso envolve nossas soft skills (comunicação, adaptação, CNV, facilitação, etc);

Autonomia e autogestão são pontos importantes: Comunicação e feedbacks, ambiente confortável, engajamento e foco no objetivo ajudam a tornar o time auto gerenciável. Afinal, não precisamos de um gerente de Overcooked para guiar o time rumo às 3 estrelas.

 

Caso você tenha interesse no jogo, você pode baixar pela Steam clicando aqui. E se você gosta de Agilidade, acompanhe o blog e o Instagram da Jera para mais conteúdos!

 

Texto: Claudio Tadashi